Curiosamente, só em
2004 o Japão percebeu que a história de Edmundo Dantès é das mais
geniais escritas até hoje. O jovem marinheiro tornar-se-ia capitão do navio
Faraó de seu patrão e amigo Morrel e se casaria com a mulher de seus
sonhos, a bela Mercedes. O que Dantès não imaginava é que três
homens mudariam para sempre sua vida. Um deles era Fernando Mondego.
Este era apaixonado por Mercedes e sabia que precisaria eliminar Edmundo
para ter a chance de desposá-la. O segundo era Danglars, uma figura
medíocre que sentia profunda inveja de Edmundo. O terceiro seria Villefort,
que acusaria efetivamente o marinheiro de traição, mandando-o para o Castelo
de If. Lá, Edmundo encontra um outro preso chamado Abade Faria,
que apesar de todos o acharem doido, era realmente possuidor de uma grande
fortuna na ilha de Monte Cristo, que deixaria como herança para Edmundo,
se este conseguisse fugir. E fugiu prometendo se vingar de todos os que lhe
fizeram mau.
E é assim que começa
o Conde de Monte Cristo, uma história cheia de aventura, romance e uma
lição de vida a ser seguida. Não pela vingança, mas pela redenção e amor.
Erroneamente, o livro é colocado pela maioria das editoras como uma história
juvenil. Mas sua temática é tão profundamente dramática e com capítulos por
vezes confusos aos mais desavisados, que Monte Cristo é sim uma
obra-prima da literatura universal, contudo, não juvenil.
E quem parece que conseguiu bem perceber o caráter adulto da história foi o estúdio Gonzo. Em 2004 começou a ser exibido no Japão o anime Gankutsuou 巌窟王. A animação é excelente, com algumas sequências inteiras de CG.
Quem não leu o livro, certamente achará Gankutsuou 巌窟王 um dos grandes animes feitos no início dos anos 2000. Contudo, os leitores e principalmente fãs de Conde de Monte Cristo e das obras de Alexandre Dumas devem assistir ao anime praticamente sem compará-lo a obra original. E há um ótimo motivo para não comparações: o anime segue parte da cronologia do livro até sua metade (12º episódio). Daí para frente acontece uma sucessão de fatos vindos da pura imaginação dos integrantes do estúdio Gonzo. Estes acontecimentos nada têm a ver com a obra de Dumas.
A história de Gankutsuou começa já quase na metade do livro, no carnaval que acontece na Lua e não em Roma. Lá, o jovem Alberto de Morcerf (filho de Fernando Mondego) e seu amigo Franz conhecem uma figura misteriosa: o rico e famoso Conde de Monte Cristo. Este salva Alberto de um suposto seqüestro e faz com o que jovem fique eternamente grato pelo socorro. Pouco depois o Conde vai a Paris a convite de Alberto, dando assim início ao seu plano de vingança contra os homens que o jogaram no inferno da prisão de If, um lugar sombrio envolto na mais completa escuridão em algum lugar bem distante no espaço. Gankutsuou se passa em um futuro distante, mais precisamente no sexto milênio. Contudo, as roupas são estilizadas semelhantes as do século XIX. Tanto que no último episódio o estúdio Gonzo chamou a designer Anna Sui para desenhar as roupas.
O que pode deixar
muita gente invocada é que Gankutsuou é uma adaptação que deturpa demais
o conceito original da obra. O Edmundo Dantès do estúdio Gonzo é
uma figura cruel, sem o menor sentimento de compaixão, sendo frio até mesmo com
seus companheiros como Luigi Vampa. Este Dantès também não passa
pelo arrependimento característico do personagem original.
Além disso, alguns
personagens de vital importância do livro nem aparecem na animação. O Senhor Morrel
e o pai de Edmundo, Luis Dantès apenas são mencionados. Já o abade Faria
nem aparece. No lugar dele, quem dá poderes a Edmundo é uma figura
sinistra e sombria, com corpo deformado, mas com poderes gigantescos. E é esta
figura que dá nome ao desenho: Gankutsuou (Senhor da Caverna), que se
aproveita do momento de pura fraqueza de Dantès na prisão de If, usando
seu corpo e sua alma corrompida. E eis
aqui mais uma grande diferença em relação ao livro: Edmundo Dantès sentia-se
um vingador de Deus. Em Gankutsuou, ele mais parece um enviado do
inferno.
Um dado comum do
anime e outras adaptações foram o de fazer Edmundo e Fernando Mondego
amigos. Em alguns filmes e séries de TV isto também acontece. Contudo, isto
só serve para dar mais dramaticidade ao rancor de Dantès ante Mondego,
em uma licença de adaptação equivocada. Dumas não os criou amigos. Eles
praticamente nem se conheciam no livro.
E há muitas outras
mudanças esdrúxulas no anime. Mesmo assim, Gankutsuou é uma bela obra e
que deve ser registrada como uma adaptação bem pitoresca e com elementos
fraternais fortíssimos, já que a amizade de muitos personagens é o grande motor
da história.
Vale lembrar que além da parte técnica genial, a música instrumental de Koji Kasamatsu e cantada de Jean Jacques Burnel podem trazer lágrimas aos mais emotivos. Certamente, deve ser fácil encontrar nos fansubs (fansubbers).
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