ANÁLISE: mercado de animes 2024/ 2025

 


The Association of Japanese Animations lança todos os anos uma análise do mercado de animes no Japão e no mundo. São informações que a indústria japonesa coleta de um dos seus mercados mais relevantes: do entretenimento ligado aos animes. O relatório divulgado em março de 2025 faz referência ao mercado no ano de 2024, e também traz informações dos dados consolidados de recursos arrecadados de 2023.
O material traz diversos pontos que formam o conjunto como um todo da indústria. A arrecadação por meio da televisão, cinema, home vídeo (Blu-ray e DVD), distribuição pela internet, merchandising, entretenimento ao vivo e outros (como pachinko). Inclusive coletam brevemente informações da indústria musical ligada aos animes.
Nossa análise terá como base os relatórios dos últimos anos e cruzaremos com alguns dados ligados ao nosso próprio mercado e pesquisa de campo em três grandes eventos na cidade de São Paulo: Festival do Japão, Anime Friends e CCXP.

O que podemos constatar é que nos últimos cinco anos, houve uma variação de arrecadação do mercado doméstico japonês e mercado internacional. Em 2020 e 2021, o mercado internacional ultrapassou pela primeira vez a arrecadação interna japonesa. Em 2022 houve praticamente um “empate” na arrecadação, com ligeira elevação do mercado internacional. Já em 2023 o mercado internacional avançou um pouco mais em sua arrecadação.

Com base nos relatórios dos últimos anos, podemos constatar o real impacto que alguns títulos têm para a indústria japonesa. O relatório costuma mencionar nominalmente animes que tiveram “peso” para a indústria. Alguns deles são poucos conhecidos por aqui, como é o caso de Detective Conan, que além de figurar entre as maiores audiências da TV japonesa, ainda aparece com impacto significativo no mercado de produtos. 

Polemon, One Piece também são obras importantes especialmente no giro de produtos e sempre são citados nos relatórios. E há ainda os casos mais recentes como Demon Slayer e Spy x Family. Estes dois últimos foram grandes êxitos comerciais também no ocidente. Outro título que chama a atenção é que por pelo menos três anos, Naruto Shippuden aparece em primeiro lugar em royalties do mercado musical de animes. 

É visual a importância econômica das exibições via streaming, que a cada ano só cresce. Mesmo assim, a exibição em televisão ainda é relevante, assim como a venda de DVDs, Blue-ray e outros materiais físicos. Chega a ser curioso porque no Brasil praticamente não há mais este tipo de suporte, mas no Japão as vendas de DVDs, Blue-ray continuam fortes e geram muito dinheiro ao mercado.

E aqui inicia-se uma intersecção entre o mercado japonês e brasileiro. O movimento da audiência da TV linear (aberta e fechada, usando o termo da Kantar IBOPE Media) tem caído ante o Vídeo Online. A Kantar divulga mensalmente aaudiência de vídeo e a participação de streaming só tem aumentado. 

Já faz alguns anos que a TV linear perdeu relevância no universo dos animes no Brasil. E aqui temos dados interessantes. Apesar da importância para o mercado da animação japonesa, o Crunchyroll NÃO figura entre os serviços mais vistos. Faz parte de “Outros” na tabela

Só que alguns de seus títulos reverberam em eventos de entretenimento como o Festival do Japão, Anime Friends e CCXP. Os animes com mais produtos correlacionados nas áreas de artistas (artist valley, artist alley, etc) são de títulos do Crunchyroll. Em 2023, certamente Demon Slayer e Spy x Family foram os que mais chamaram a atenção, tal qual ocorreu no relatório japonês. 

E, apesar dos eventos serem pagos (muito bem pagos...), a presença massiva da imagem de alguns animes vai reverberando e expandindo e acaba – de uma forma ou outra – atingindo um público maior. E só para ficarmos nestes dois animes, como nosso exemplo, os mesmos acabam ganhando ainda mais visibilidade quando apareceram em outro streaming: o Netflix

Apesar desta plataforma não fazer muita divulgação do que não é sua co-produção, ainda assim o impacto que o Netflix causa é absurdo por um motivo muito relevante: a audiência. Este é o streaming pago com maior audiência no Brasil, muito, mas muito a frente da segunda colocada (que pode variar um pouco dependendo da medição, ver dados da Kantar e esta matéria). 

Certamente, fazer parte na grade do Netflix é um fator relevante a ser apontado. Vide a entrada neste ano de Diários de uma Apotecária na plataforma. Este anime atingiu níveis de conhecimento de público que até então não havia ocorrido enquanto estava somente no Crunchyroll. Certamente é um caso claro do diferencial que o Netflix pode ocasionar. 

E, a entrada de outros players no tabuleiro do mercado de animes é algo a chamar a atenção: +SBT e em breve Globoplay, de acordo com esta matéria do Omelete, são exemplos do crescente interesse e impacto que a animação japonesa pode ter nos serviços. 

Os outros streamings como Prime Video, Disney+, HBO MAX também têm animações japonesas em suas grades, em um movimento crescente número dos títulos disponibilizados. Corre por fora o recente Anime Onegai, que além de streaming próprio, também distribui alguns animes em co-parceria com as outras empresas. Vide Minha Amiga Nokotan é um Cervo no +SBT. 

Por fim, só conseguiremos ver os impactos reais de alguns animes lançados no final de 2024 e início de 2025 e tendências para o mercado no Japão nos relatórios de 2026 e 2027 da The Association of Japanese AnimationsPor aqui, parte dos impactos de títulos (como Frieren, Solo Leveling, Diários de uma Apotecária, Dan Da Dan, etc) recentes já poderão ser vistos em grandes eventos como Festival do Japão, Anime Friends e CCXP. 

Tanto de produtos oficiais que continuam (caso de Demon Slayer e Spy x Family) e que iniciam sua jornada nos eventos e depois se estendem para lojas de mercado.  Como a presença de produtos (botons, desenhos, banners, chaveiros) nas mesas das áreas de artistas.  

Porque sim, estas áreas de artistas apresentam um bom termômetro do sucesso de um anime. Um artista que paga (caro) por uma mesa, costuma fazer produtos com os traços próprios dos sucessos que o público assiste e quer comprar mimos. E, ao chamar atenção com os fanarts, acaba por chamar atenção para as próprias obras. Um ciclo em que todos ganham de uma forma ou outra.

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