LicensingCon
Latam 2025 foi um evento de B2B (Business To Business) que ocorreu nos dias 27
e 28 de agosto de 2025. A ação promoveu o setor de licenciamento de marcas e
personagens. Não é um evento para o público geral. Mas, para empresas
interessadas em conhecer e adquirir o direito de ter um produto com uma marca.
Por
exemplo: uma empresa de mochila que quer adquirir o direito de colocar Dragon
Ball Z em seu produto. Ou uma empresa de cadernos que queira colocar Spy x
Family em seu produto. Ou ainda, uma loja de roupas que queira produzir e
vender camisetas da Turma da Mônica.
As
principais empresas de licença direta como a Disney, Universal Products &
Experiences, Warner Bros. Discovery, Grupo Globo, Hello Kitty entre outras
estavam no local. Também estavam presentes as empresas de licenças como Vertical
Licensing, Redibra, etc, que representam companhias que não tinham licença
direta no evento.
O que mais nos interessou foi entender a presença das empresas ligadas aos animes. Este ano houve o comparecimento de algumas companhias nipônicas: a Aniplex, Crunchyroll, TMS. Também teve a presença da JETRO (Japan External Trade Organization), uma organização vinculada ao governo japonês cujo objetivo é apoiar e promover o comércio bilateral entre o Japão e os demais países.
Apesar
de muitos títulos – como Demon Slayer, Jujutsu Kaisen, Spy x Family, Solo Leveling, Kaguya-sama: Love Is War,
Mashile, Wind Breaker, Blue Box, entre outros - serem muito conhecidos do público otaku, eis
que existe uma questão: grande parte dos empresários presentes simplesmente ainda não
conhece estes títulos. O que percebemos é que muitos “head” das empresas
passavam nos estandes/lounge, mas não
ficavam muito tempo, demonstrando o não interesse em fechar negócios.
E um
dos motivos era bem simples: a barreira da língua. Não havia uma pessoa que
falasse português, somente no Crunchyroll e na Jetro. Apesar do discurso do
mercado de que “todo mundo” sabe inglês – e japonês no caso destas empresas –
no Brasil não funciona bem assim. E o que percebemos é que isso não é de hoje.
Já faz alguns anos que empresas japonesas vêm a estes eventos, mas não se fixam
porque talvez não atraiam a atenção das empresas nacionais.
Aqui
temos alguns fatos: se você quer vender seu produto, você tem que se fazer
entender. E ter um profissional que saiba a “língua mãe” do país anfitrião é
fundamental. Ficamos com a nítida impressão que este fato atrapalhou e muito
qualquer interesse que eventualmente uma empresa nacional tivesse. E isso não é
um fato “bobo”. Certamente houve bons negócios. Contudo, o número de produtos
ligados à animação japonesa poderia ser ainda maior no Brasil.
Por
outro lado, estandes com profissionais que falavam língua portuguesa sempre
tinham ao menos uma pessoa ou outra perguntando para entender o personagem de
um estande (mesmo desconhecidos). Este fato da “barreira da língua” acaba
intensificando o mais do mesmo.
No
caso, das empresas adquirindo personagens mais “fáceis” da Disney, Warner,
Maurício de Sousa (o estande mais cheio, diga-se de passagem). Mesmo a Jetro,
que deveria ser justamente um “facilitador” das empresas japonesas, era um
estande que muitos empresários aparentemente não entendiam exatamente para o
que servia.
E a Jetro disponibilizar um folder com um anime chamado Beelzebub também não ajudou para quem entendeu o que a Jetro era. Porque se ainda existe preconceito com as animações japonesas, isso só se intensificou com um anime cujo título é justamente “Beelzebub”.
De
certa forma, mostra certa desconexão do entendimento da cultura brasileira, que
tem bases fortes na reliogisidade. Mesmo um empresário interessado tem seus conceitos
pessoais e entende o comportamento do seu público-alvo. E já de cara,
“Beelzebub” afasta qualquer eventual interessado.
Infelizmente,
ainda falta um pouco do entendimento de como é o “modus operandi” no Brasil. Aniplex
e TMS, especialmente, gastaram recursos para montar estande/ lounge, passagem
dos profissionais que vieram dos Estados Unidos, estadia e sabe-se o que mais
para, no final, faltar o básico: a comunicação simples e direta com os empresários
brasileiros. Fora a comunicação falada, a comunicação escrita também. Todo o
material apresentado estava em inglês.
Daí, talvez o pensamento em um empresário brasileiro fosse: “por que vou perdeu meu tempo tentando entender uma marca, tendo outras já consagradas e conhecidas que posso conversar tranquilamente?” Tempo é dinheiro em um evento destes e nem todos têm o tempo necessário ou disposição para querer conhecer algo “incompreensível”.
Tanto
que uma das empresas presentes era a Redibra, responsável por diversas marcas como
Mario Bros, Coca-Cola, Netflix. Mesmo sem ter absolutamente nenhuma imagem de
referência no estande, houve empresas interessadas em Sakamoto Days. Por ser da
Netflix (co-dona da obra), a Redibra podia negociar e negociou produtos deste
anime.
Por
ter representante brasileiro, hora e outra o estande Crunchyroll tinha
interessados. Além disso, a Vertical Licensing – cujo escritório está na
capital paulista - é também um facilitador das obras da Crunchyroll, o que
contribui para as empresas nacionais negociassem as obras da CR tanto no evento
quanto fora dele.
Depois de anos que não íamos no Licensing Brasil, agora LicensingCon Latam, percebemos (com certa tristeza) que ano vem, ano vai e muitas empresas japonesas continuam sem entender o mercado brasileiro. Aparentemente, são oportunidades perdidas por situações simples. O Brasil é um país continental e com muitas nuances de comportamento.
Muitos empresários têm conhecimento e participam de feiras internacionais. Mas, há um grande número que fica por aqui mesmo, é bem sucedido e deseja praticidade. LicensingCon Latam é justamente um local que abarca tal facilidade. Mas, é importante que quem venha para o Brasil e espera fechar negócios também faça sua parte. Estudar nosso mercado, nossos comportamentos, enfim, nossa cultura.
1 Comentários
Ah, esse calendário da Aniplex, queria!!! Espero que o licenciamento de produtos melhore com o tempo e no futuro esses furos dos empresários japoneses sejam só lembrança!
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